"Engole o choro!". Esta é uma das frases mais usadas como exemplo de como aquilo que falamos na criação de um filho ou filha pode deixar marcas. Recentemente vi um vídeo que trazia falas de crianças sobre o que escutavam mais de suas mães, a de Pedro foi esta: "Engole o choro, se não você vai apanhar!", a de Giovana foi: "Quando eu morrer quero ver quem vai cuidar dessa casa!" e de outra criança: "Um dia eu vou sumir dessa casa!". O vídeo convidava a uma reflexão sobre a marca que as falas dessas mães deixaram em seus filhos, trazia uma provocação extremamente importante sobre um padrão que ainda existe de educar a partir da violência física e emocional. É de extrema importância conversarmos sobre isso e pararmos com a crença de que a violência educa.
A violência cala, oprime, abafa, mas não educa…
Mas, o que quero conversar aqui hoje com você, é sobre estas mães. Confesso, antes de ser mãe, eu acho que teria visto esse vídeo e pensado: "Que absurdo! Quanta gente sem noção existe, como pode falar coisas assim para uma criança?!". Hoje, tendo uma bebê de um ano, eu penso: "A que ponto essa mulher chegou para berrar em plenos pulmões "um dia vou sumir dessa casa!" ?" Pois é, depois que virei mãe comecei a ver o que talvez estivesse diante dos meus olhos, mas simplesmente não via: mães exaustas.
Eu já tive meu momento de desespero, de "Não vou dar conta disso!", a minha sorte foi ter criado e ter sido presenteada pelo universo também, por uma rede de apoio maravilhosa. Mas, nestes momentos de profunda dor, o que eu mais me falava era: "Você tem que dar conta, por que você simplesmente não dá conta?!" Daí vem o título deste texto: "Mãe, engole o seu choro.". Quantas mães será que estão por aí engolindo o próprio choro? Ou chorando mesmo, sem encontrar saída para seu burnout materno, sua depressão pós parto, ou simplesmente seu cansaço misturado com saudades de uma liberdade que já provou um dia?
Quando falamos sobre não-violência, as frases destas mães podem parecer ser um exemplo claro de agressão. Só que, a cada expressão explícita de violência, existe uma violência invisível, sistêmica, atuando em conjunto.
Os estudos da Comunicação Não-Violenta reforçam a importância de olharmos para a violência estrutural que existe. A CNV nos convida a olhar para além dos diálogos e para o paradigma que está influênciando a forma como as relações acontecem.
Precisamos conversar sobre como a nossa sociedade, nossas empresas, nosso governo, nossas famílias precisam encontrar caminhos para apoiar estas mães (e alguns pais que também estão completamente exaustos). Se queremos crianças saudáveis precisamos de mães e pais saudáveis. A gente simplesmente não consegue dar o que não temos para oferecer.
Em meio a isso, quero muito que mães encontrem caminhos para se cuidar emocionalmente, caminhos de mais autocompaixão, de acolhimento, caminhos para criar suas redes de apoio também. Longe de ter uma resposta perfeita e ainda aprendendo muito, coloco aqui três ações que me apoiaram e me apoiam em momentos difíceis da maternidade:
Pedir espaço. Se possível for, permita que sua vulnerabilidade apareça, peça para o pai ficar com a criança, avós, uma babá, uma amiga. Às vezes uma hora ou algumas horas, um dia, são espaços de descanso e processamento, o que você precisa para se acalmar e voltar para seu filho com a energia que gostaria.
Escreva ou fale com alguém. Poder colocar para fora, sem filtro, o que está dentro de você é muito curador. Escrever e ler depois com compaixão o que escreveu, percebendo os sentimentos e o que quer cuidar ali te ajuda a processar. Se for conversar com alguém, deixe claro como gostaria de ser ouvido, fale que não quer conselhos e julgamentos, que precisa de compreensão e acolhimento. Talvez esta pessoa não consiga te dar isso então vamos para minha última sugestão de ação.
Procure apoio profissional. Terapia é um lugar que vem e vai na minha vida, mas que cuida de algo que nenhuma outra relação minha consegue, um espaço 100% neutro e seguro. Lembrar que isso é para cuidar não só de mim como da minha filha me ajuda a persistir. Aprender mais sobre Comunicação Não-Violenta foi também muito importante para ter mais recursos e conhecimento de forma a criar as conversas que precisava com meu marido, no meu trabalho e com minha família.
Coloco estas ideias reconhecendo que mesmo elas podem ser difíceis ou impossíveis para mães que não possuem rede de apoio e, para estes contextos, reforço a importância de todos nos unirmos em apoio a estas mães.
Antes de finalizar este texto (e antes que minha bebe acorde) quero falar para as mães que estão lendo: Você não está sozinha. Não está fácil mesmo. Tudo bem não estar bem. Tudo bem amar seu filho(a) e mesmo assim ficar triste, cansada e precisando de espaço. Que através das conversas consigamos criar redes de apoio e as mudanças sistêmicas que tanto precisamos.
Escrito por
Nolah Lima