É comum ouvirmos sobre o poder de ter empatia para compreensão da outra pessoa e manter relações saudáveis. Mas... o que é ter empatia mesmo? É me colocar no lugar do outro? É concordar com ele? É ficar em silêncio e não responder?
São tantos pensamentos que podemos nos afastar do que é importante. O que realmente buscamos em ter empatia é: aumentar as chances de compreender e ser compreendido.
Na intenção de tornar essa compreensão mais simples e prática, para que você possa começar hoje mesmo a ter conversas mais empáticas, vou te contar o que é empatia e como ela tem contribuído para a qualidade das minhas relações pessoais e profissionais.
Ter empatia não é muito sobre “ter” algo, de forma permanente, mas sobre “estar”, naquele momento, verdadeiramente junto com o outro, para ouvir o que ele está te contando e buscar compreender o que está por trás das palavras.
Ou seja, de forma prática, ter empatia é estar acompanhando a experiência relatada pelo outro, com uma pergunta aberta para a compreensão: “de tudo isso que ele está me dizendo, o que é realmente importante para ele?”. É estar presente para escutar e, a partir desta escuta qualificada, compreender como o outro tem experimentado aquela situação e o que o motiva a pensar ou agir daquela forma.
Parece simples. E realmente é, quando estamos conscientes da nossa capacidade de escutar o outro, naquele momento, com uma presença real, sem nos enveredar pelas nossas histórias, pela tentativa de resolver o problema, pela vontade de nos justificar ou tirar o outro daquele lugar de dor. Para que isso seja cada vez mais acessível, vou contar um pouco mais sobre como é ter empatia para a CNV e algumas dicas chaves para reconhecer bloqueios a uma escuta empática.
O que é ter empatia para a CNV?
Ter empatia para a CNV é estar conscientemente presente ao que está sendo dito, buscando identificar o que está se passando com a outra pessoa, focando em quais são seus sentimentos e o que ela precisa, ou seja, quais são suas necessidades. É acompanhar o outro com presença e atenção, criando um espaço seguro para que a pessoa expresse sua honestidade. Isso é o que percebemos ao longo dos nossos anos de estudo e prática,
Quem nos acompanha há algum tempo, já realizou algum dos nossos treinamentos ou esteve em contato com algum dos livros do Marshall Rosenberg, já ouviu falar de empatia, da intenção de uma conexão genuína com o outro e dos componentes de uma comunicação não-violenta, que nos aproxima e nos apoia nessa intenção (observação, sentimentos, necessidades e pedidos). O tempero que a CNV traz para o momento de empatia é exatamente manter o foco nestes elementos durante uma escuta.
Desde o início, é fundamental estar presente com o outro, escutando e identificando os fatos observáveis que despertam nele aquela experiência. Em silêncio, você pode se perguntar: “O que, de fato, aconteceu aí?” E depois: “Quais são seus sentimentos e as necessidades dele nesta situação?”. De forma prática, vamos supor que você ouça do(a) seu companheiro(a): “você não fez nada para ajudar hoje! Tive que subir com as compras sozinha!”, você pode imaginar que esta pessoa, ao subir com as compras só, pode ter ficado chateada por precisar de apoio.
Durante a escuta, você pode refletir de volta o que ouviu e verificar se realmente está compreendendo o que o outro está dizendo. Uma forma de se fazer isso é perguntar: "Posso repetir o que ouvi até aqui para ver se estou compreendendo?". Toda e qualquer percepção do que foi dito ou sentimento e necessidade que você identifique sobre o outro é uma hipótese vinda de você, daquilo que foi capaz de perceber ao escutá-lo, então, a checagem deve ser feita em formato de pergunta. “É isso mesmo?”. A pesoa é quem dirá se é isso ou não.
Você poderá continuar neste processo de escuta, presente e atenta, com reflexões de volta e checagens, até que a pessoa lhe dê sinais de que foi compreendida. E você pode estar se perguntando: “Humm... que sinais são estes?” Pode ser uma expressão falada, que às vezes vem como um: “Sim! É isso!”, seguida de um silêncio, ou mesmo expressões corporais de alívio e acolhimento. Por fim, você também pode checar se a pessoa está completa ou se ainda tem algo mais para falar. Costumo perguntar: "Tem algo mais que você gostaria de dizer?" Da minha experiência, isso tanto permite que o outro continue, caso tenha algo mais a dizer, como também perceba, mais uma vez, a minha disponibilidade em ouvi-lo e a minha intenção de apoiá-lo. Quanto mais vamos treinando nossa atenção para perceber sentimentos e necessidades, mais natural vai se tornando ter empatia nas nossas relações.
Ter empatia não é o mesmo que concordar
Um dos grandes alívios que senti quando comecei a estudar Comunicação Não-Violenta foi a descoberta de que, para ter empatia com o outro, eu não precisava concordar com o que ele estava dizendo. Ufa! E percebo que esse continua sendo um dos grandes mitos da empatia.
Sim… É possível ter empatia por uma pessoa mesmo quando eu não concordo com as escolhas que ela fez ou com os pensamentos que ela está expressando. Pode ser um pouco mais difícil, por despertar, em mim, pensamentos que podem incluir julgamentos sobre o outro, sentimentos desconfortáveis e tocar em necessidades muito importantes para mim. Mas, não só é possível, como recomendável buscar ter empatia com pessoas das quais discordamos, para que não entremos numa dinâmica de certo e errado, que nutre a separação e, num grau mais elevado, impulsionam episódios de violência.
Compreender que o outro tem uma perspectiva diferente da sua sobre determinado assunto e que você não precisa pensar como ele, é o primeiro passo para se abrir a compreensão do que está por trás deste pensamento e destas ações que você não concorda. Ao tomar consciência de que esta é a experiência do outro e afastando do pensamento de que ele está errado por pensar assim, podemos reconhecer que há sentimentos e necessidades presentes ali, necessidades humanas universais, como compreensão, apoio, parceria, segurança, confiança, as quais também compartilhamos.
E, ainda assim, mesmo não concordando como que essa pessoa faz para atender essas necessidades, podemos, intencionalmente, buscar compreender o que o está motivando e o que ele está buscando atender com estas escolhas. Lembre-se que ter empatia não é corroborar ou consentir com a experiência do outro, mas, sim, se conectar com os sentimentos e necessidades por trás desta experiência.
Compreender as motivações das ações e ideias de alguém aumenta muito a nossa chance de entrar em um diálogo construtivo com essa pessoa. Assim, ter empatia ajuda a construir pontes ao invés de muros entre nós, por mais que estejamos distantes.
Ter empatia aumenta as chances de ser compreendido
Quando o tema é empatia, é comum reforçarmos a máxima de que “escutamos para compreender”. E você pode estar se perguntando: “E quem escuta não terá oportunidade de se expressar e de ser compreendido?” Esta é uma pergunta muito frequente em nossos treinamentos.
Sabe quando você quer conversar com alguém sobre algo que não está legal na relação de vocês , esperando que ela te escute e compreenda o que você está sentindo e precisando; e você se dispõe a puxar esta conversa, abre o seu coração, e a outra pessoa devolve com uma enxurrada de reclamações do lado de lá? Já passou por isso?
O que costuma acontecer quando duas pessoas querem se expressar e ser compreendidas, num mesmo momento, é que a conversa se converte automaticamente em dois monólogos, não há diálogo. Não se escuta para compreender, mas para responder, justificar e esperar o momento para também despejar o desconforto. “Ok, mas…..”. Ou seja, há duas pessoas falando e nenhuma verdadeiramente escutando.
Se eu escolho ouvir o que o outro tem a me dizer, traduzindo a sua expressão, às vezes cheia de julgamentos e acusações, em sentimentos e necessidades, permito que esta pessoa se “esvazie” a ponto de se sentir compreendida e ser capaz de me escutar.
Por isso, ter empatia aumenta, significativamente, as chances de que eu também seja compreendida.
No exemplo acima, eu poderia começar dizendo: “Estou entendendo que você também tem coisas importantes para me dizer, está chateada e também precisa de escuta, é isso?” E a conversa poderia seguir com mais empatia, acolhimento e compreensão.
Como bem pontua Marie Myashiro, numa relação empática, a empatia é uma via de mão dupla: “vou ouvi-lo e, quando você se sentir ouvido, quero compartilhar com você como isso me afeta”.
Você pode ler um pouco mais sobre isso neste outro blogspost, em que a Erika Moulin nos conta sobre a sua experiência e nos convida a várias reflexões significativas sobre empatia:
Você não precisa ser bonzinho para ter empatia
Por fim, a boa notícia é que você não precisa ser bonzinho, calmo, passivo ou qualquer outra coisa para ter empatia. Também não é necessário ter nascido com este “dom” e “ter empatia” a todo e qualquer momento.
Certamente, há pessoas que desenvolveram, ao longo da vida, mais recursos internos que contribuem para ter mais presença e condições favoráveis para uma escuta empática. Contudo, a empatia é uma habilidade, que pode ser desenvolvida e fortalecida através de uma prática consistente.
Mais que isso, ter empatia é uma escolha: uma escolha consciente de estar presente com o outro, ouvindo-o para compreender os sentimentos e as necessidades que estão por trás das histórias que ele está te contando. Esta escolha é diária, momento a momento.
E, como estamos em relação com várias outras pessoas, com pensamentos muito diferente dos nossos, podemos nos deparar com uma conversa difícil para nós, em que ser empático pode ser confundido com ser passivo. A empatia não nos retira o componente da autenticidade. Pelo contrário, estar presente com o relato da experiência de alguém e, de forma consciente, reconhecer o que é do outro, o que ele sente e precisa e, também, reconhecer os impactos que isto tem na minha própria experiência, me permite ser capaz de seguir numa conversa e construir sentido junto, num misto de empatia e expressão honesta.
Nesse caso, ter empatia é ser capaz de ouvir mensagens difíceis e traduzir o que a outra pessoa está querendo preservar ao dizer o que disse, sem perder a nossa autenticidade e nos afastar do que é importante para nós. E isso é especialmente desafiador quando o assunto envolve temas polêmicos ou com muitas perspectivas divergentes, como, por exemplo, política. Deixo aqui um dos nossos Papos CNV, em que a Jade trouxe o exemplo de uma conversa empática sobre este tema: https://www.youtube.com/watch?v=D-pBXou44JA&t=32s
“Felizmente, a empatia é infinita e renovável. Quanto mais você dá, mais todos nós temos. Isso significa que toda dor pode ser recebida com empatia — não há motivo para classificar e racionar” - Brené Brown - A coragem para liderar.
Quanto mais empatia pudermos praticar, mais compreensão das diferentes perspectivas e menos separação e violência teremos por aqui! Tanto nas nossas vidas pessoais, com pessoas mais próximas, familiares, vizinhos e conhecidos, como nas nossas relações profissionais, com colegas da nossa equipe de trabalho, chefe e colaboradores.
Quer companhia para aprender, praticar e fortalecer suas habilidades em empatia?
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Autora: Cristiane Chaves