Já passou o carnaval e de tanta coisa por aqui já estamos nos sentindo quase no meio do ano! Estamos revisando o que colhemos nesse bimestre e colocando intenção para os objetivos e ações que queremos ver acontecer. E nesse movimento de definir ações entramos em contato com um poderoso componente da CNV: os pedidos.
Não há como realizar tudo o que estamos planejando sem pedir. Pedir muito!
Para nós soava estranho falar que precisávamos fazer pedidos, era como se estivéssemos com algo faltando, menores ou carentes. Mas o fato é que de pedidos vivemos a vida corporativa, são os pedidos que nos fazem construir projetos, relatórios, componentes de resultados importantes para cada tarefa diária que temos.
Por exemplo, para construir a pauta da última reunião, pedimos para cada responsável trazer suas apresentações e tópicos a serem trabalhados, pedimos que o fizessem em um determinado tempo e que conduzissem o processo de decisão com a equipe.
É pedindo, oferecendo e fazendo compromissos que fazemos com que tudo funcione.
Você com certeza já percebeu que nossos movimentos pessoais também envolvem uma quantidade enorme de pedidos, para si ou para outras pessoas. Mas há uma forma muito simples de fazer com que o seu pedido não chegue ao outro: fazê-lo como uma exigência.
Por vezes, estamos tão conectados com nossas necessidades, e tão empolgados com a ideia de honrá-las, que apresentamos um pedido sem dar espaço para que o outro reaja a ele, seja negociando o que está sendo pedido ou se recusando a fazê-lo.
A magia dos pedidos está justamente em abrir a possibilidade para que essa pessoa contribua para tornar nossa vida mais maravilhosa,
mas se não damos a oportunidade ao outro de nos dizer como o pedido está chegando, um desconforto está estabelecido.
Com esse desconforto, pode até ser que ele faça o que você pede, mas desde um lugar de medo ou culpa e esse é o primeiro passo para grandes conflitos e relações que não se sustentam. Agir a partir do medo e da culpa no curto prazo não parece ser tão grave, mas no longo prazo a o ressentimento e a dor geram um único impulso: se afastar.
Como saber se estou pedindo ou exigindo? Lembre-se que a Comunicação Não Violenta começa na auto-conexão e tem raiz na intenção. Somos responsáveis por nossos sentimentos e os maiores defensores de nossas necessidades. Antes de apresentá-los a uma pessoa que pode contribuir com a sua vida, conecte-se com a intenção de fazê-lo. E dá uma olhada se há espaço para receber um não ao que irá pedir. Se houver resistência à possiblidade de ouvir um não ao seu pedido, um tempo para a auto-empatia ou uma ligação para seu parceiro empático podem ajudar a entender o que está realmente vivo em você. Com essa clareza, pode até ser que o que você gostaria de pedir tome uma outra forma, e seja mais fácil conversar sobre o que é isso que você quer cuidar com a ajuda dessa pessoa.
Se você se encontrar com um "mas não existe outra opção", talvez tenha algo ainda mais profundo que possa ser mostrado ao outro que faça ainda mais provável com que ele colabore com seu pedido.
Marshall Rosenberg nos lembra que ouvir e respeitar o que uma pessoa precisa não significa que tenhamos que fazer o que ela pede.
E isso nos abre para a conversa que segue o "não". Receber uma negativa para o seu pedido pode ser uma ótima oportunidade para explorar qual o pedido do outro está por trás desse "não" e quem sabe construir uma alternativa que atenda aos dois.
No exemplo da pauta que trouxemos logo no início do texto, para a área de marketing o modelo sugerido não fazia sentido, pois estava em um momento de revisão de suas atividades e seria desafiador apresentar os tópicos a serem trabalhados. O não da área de marketing ao modelo de pauta sugerido permitiu identificar uma nova estratégia, que seria realizar reuniões menores entre áreas para definição de atividades, antes de entrar em uma reunião maior com todo o Instituto. Isso trouxe mais segurança para as pessoas da área de marketing e eficiência para a reunião.
Dar escolha traz liberdade não só para quem escuta o pedido, mas também para quem o faz.
Não apegadas à uma pessoa ou uma ação em específico como estratégia podemos ficar curiosos sobre quais são as nossas alternativas, caso aquela pessoa não possa contribuir da maneira como tínhamos imaginado. Estar conectado com a intenção se torna um primeiro passo para sair da escassez e entrar na abundância de estratégias que a vida apresenta para cuidar do que é mais valioso para você.
Autoria: Flávia Amorim com colaboração de Liliane Sant'Anna
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