Autor: John Kynion

Acredito profundamente que o caminho para a humanidade sair deste momento de crise crescente Ă©, nĂŁo apenas apoiar uma nova maneira de ser, mas tambĂ©m resistir ao atual sistema sĂłcio-polĂtico-econĂŽmico que estĂĄ matando a nĂłs e Ă vida no planeta. A forma que vejo para resistir, porĂ©m, Ă© com empatia e cuidado. Em minha compreensĂŁo, esse sistema vem crescendo hĂĄ muito tempo, Ă medida que se espalhou pelo mundo em muitas civilizaçÔes que surgiram e desapareceram nas areias do tempo; crescentes avanços tecnolĂłgicos moldam nossa consciĂȘncia humana em direção a um materialismo, individualismo e controle cada vez maior. Nossa civilização agora parece estar decaindo devido a uma preponderĂąncia de corrupção, auto-obsessĂŁo e ganĂąncia, como todas as civilizaçÔes anteriores fizeram neste estĂĄgio. Desta vez, no entanto, exceto por algumas populaçÔes indĂgenas ao redor do mundo que carregam a sabedoria antiga, somos uma civilização global que agora enfrenta ameaças existenciais para toda a humanidade e grande parte da vida no planeta. Alguns dizem que estamos entrando (ou entramos) em um perĂodo de 6ÂȘ extinção em massa na Terra.
Todos carregamos dentro de nós a disfunção do sistema atual e fazemos parte de sua morte e do nascimento de algo novo no planeta. Mas que papel vamos desempenhar se quisermos resistir a esse sistema e apoiar o surgimento de um novo e mais saudåvel? E como podemos trazer essa maneira de responder à comunicação e à conversa?
Tenho pensado muito na palavra âresistĂȘnciaâ ultimamente. Ela pode facilmente apontar para lutar contra o que nĂŁo concordamos de uma forma que Ă© inĂștil e contraproducente: resistir com a mesma âenergiaâ â atitude, mentalidade â com a qual estamos lutando. Esta Ă© a velha estratĂ©gia de combater a violĂȘncia com violĂȘncia, ainda que sutil, seja verbal ou fĂsica, nunca saindo do antigo sistema; apenas, no final, apoiando-o. A resistĂȘncia tambĂ©m pode ser a ilusĂŁo e a futilidade de lutar mentalmente contra a realidade do que Ă©, pensando que as coisas nĂŁo deveriam ser como sĂŁo ou deveriam ser de outra forma. Mas a aceitação, ou nĂŁo resistĂȘncia, do que Ă© nĂŁo significa resignação impotente em relação ao futuro.
HĂĄ muitas questĂ”es socialmente polarizadoras que o sistema oferece para nĂłs cidadĂŁos resistirmos e lutarmos, como racismo e outras desigualdades e injustiças sociais, violĂȘncia policial, controle de armas, aborto, imigração, uso de mĂĄscaras, vacinas. Por mais importantes e impactantes que sejam para a vida das pessoas, parece-me que sĂŁo os sintomas, nĂŁo a causa, e funcionam como um truque de mĂĄgica (intencional ou nĂŁo) para nos distrair, para que nĂŁo nos concentremos no jogo real que estĂĄ sendo jogado â controle sobre os outros e o meio ambiente, que tragicamente muitas vezes assume a forma de um poder colonizador, dominador, destrutivo e dizimador que remonta Ă Revolução AgrĂcola de 10.000 anos atrĂĄs. Onde eu vejo isso acontecendo agora Ă© o sistema econĂŽmico com sua competição por dinheiro, riqueza, capital e o impulso de consumo do poder corporativo pelo lucro baseado em um modelo de escassez que gera medo, agressĂŁo e violĂȘncia.
Existe uma forma de resistir que tambĂ©m aceita e ama de todo o coração. Este Caminho foi exemplificado e encarnado por Mahatma Gandhi na Ăndia no sĂ©culo passado, que resistiu com sucesso ao colonialismo britĂąnico atravĂ©s do que ele chamou de força da alma e o poder vivo da ânĂŁo-violĂȘnciaâ, que inspirou outros grandes lĂderes sociais como Nelson Mandela na Ăfrica do Sul e Martin Luther King Jr. nos Estados Unidos. Este Caminho Ă© focar em apoiar o que estĂĄ em harmonia com o mundo igualitĂĄrio que queremos criar, ao mesmo tempo em que firme e corajosamente nĂŁo apoiamos ou cooperamos com qualquer coisa que vemos que nĂŁo seja sobre saĂșde, cuidado, bondade e bem-estar para todos. O importante Ă© fazer isso com uma atitude e sentimento de conexĂŁo empĂĄtica e cuidado incondicional com as pessoas que fazem as coisas Ă s quais estamos resistindo.
Ainda mais essencial e sutil, acredito, Ă© desenvolver uma compreensĂŁo compassiva do sistema materialista de separação e dominação no qual nĂłs humanos continuamos a cair. Ă um sistema que cresceu e evoluiu por muitos milhares de anos. As pessoas vĂȘm e vĂŁo desempenhando seus vĂĄrios papĂ©is de âtĂȘmâ e ânĂŁo tĂȘmâ, e o sistema continua funcionando, atĂ© agora, enquanto enfrentamos coletivamente o abismo existencial. Pensar que a histĂłria (incluindo onde estamos agora na histĂłria) deveria ter sido de outra forma, ou que aqueles no topo da hierarquia ou os de diferentes partidos e crenças polĂticas deveriam ou poderiam ter feito de outra forma, Ă© uma forma de resistĂȘncia contraproducente. ou seja, resistir Ă realidade inalterĂĄvel do passado e do presente). Madre Teresa costumava dizer que todos os que estĂŁo presos nesse sistema sofrem â os ricos com vazio e falta de significado, conexĂŁo e paz, bem como aqueles com falta de recursos.
EntĂŁo o que acontece se nos recusarmos a jogar este jogo e, em vez disso, jogar aquele que Ă© sobre a verdadeira riqueza e poder - relacionamento profundo, amar e cuidar um do outro, e o significado e propĂłsito de trabalhar para contribuir para um mundo mais saudĂĄvel para nossa famĂlia, comunidade, paĂs, todos? SĂŁo elas que realmente nos preenchem e trazem riqueza e beleza Ă s nossas vidas. Sempre soubemos disso. Simplesmente caĂmos no transe do materialismo, do consumismo e da comparação e competição doentias. NĂłs esquecemos. Este Ă© o foco da comunicação empĂĄtica: conectar para que possamos contribuir para o bem-estar uns dos outros, atendendo nossas necessidades coletivas juntos por meio de um relacionamento de cuidado mĂștuo.
Acho que começa praticando esse tipo de resistĂȘncia dentro de nĂłs mesmos nos pequenos momentos do nosso dia a dia. O sistema internalizado nos diz para temer que nĂŁo somos suficientes. Ela nos diz para fazer mais, possuir mais, consumir mais e nos mover em um ritmo cada vez mais frenĂ©tico. Ele nos diz para temer e ficar indignado com aqueles âoutrosâ que estĂŁo se comportando de maneiras que nos dizem que sĂŁo erradas ou atĂ© mesmo âmĂĄsâ. Parece um belo ato de rebeliĂŁo desacelerar e observar esses pensamentos na mente e sentir com calorosa aceitação essas sensaçÔes e emoçÔes no corpo. Posso âresistirâ com empatia, presença e nĂŁo conformidade em mim mesmo e em meus relacionamentos, e depois em como me relaciono com as camadas dos sistemas sociais, econĂŽmicos e governamentais do mundo do qual faço parte. A imagem em minha mente Ă© uma ondulação de anĂ©is que se movem para fora na superfĂcie de um lago de um seixo caĂdo. Em cĂrculos da sociedade em expansĂŁo natural, podemos apoiar a maior conexĂŁo, cuidado, cooperação e compartilhamento que nascem atravĂ©s de nĂłs, e retirar o apoio para o que quer que vejamos que nĂŁo seja isso.
Na minha opiniĂŁo, Mahatma Gandhi Ă© o maior exemplo dessa resistĂȘncia. Com o tempo, ele simplificou sua vida ao mĂnimo essencial para que seu prĂłprio ser e todas as suas açÔes apenas apoiassem o mundo mais justo e compassivo que ele imaginava. Esse caminho da nĂŁo-violĂȘncia pode exigir grande coragem e visĂŁo, disposição para enfrentar voluntariamente o sofrimento e atĂ© a morte por descumprimento, e fazĂȘ-lo com um coração aberto e amoroso. Provavelmente, a maioria de nĂłs nĂŁo farĂĄ tais sacrifĂcios ou alcançarĂĄ tais alturas de realização, mas nĂŁo temos que decidir isso com antecedĂȘncia. Podemos apenas dar um passo de cada vez, transformando nosso medo, raiva e julgamentos em empatia e compaixĂŁo, e trazer o mĂĄximo de consciĂȘncia possĂvel para o que estamos apoiando por meio de nossa comunicação e nossas açÔes, continuamente nos perguntando o que mais podemos apoiar que seja vitalizante e contribua para o melhor, e o que mais estamos dispostos a deixar ir, resistir e nĂŁo cumprir o que vemos como que nĂŁo Ă© isso? Como dizemos em nosso treinamento, criar a vida e o mundo que imaginamos acontece uma conversa de cada vez, conosco e com os outros.
Para leitura adicional, recomendo o livro de Michael Nagler, The Third Harmony: Nonviolence and the New Story of Human Nature.
Para conhecer mais sobre o treinamento que começa em Setembro de 2022 e se inscrever, visite: https://www.institutocnvb.com.br/doconflitoaconexao
Para saber mais sobre o trabalho do John, visite: https://johnkinyon.com/